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Transformação do agro, o que esperar para a próxima década do século XXI?

A chegada de 2020 me fez refletir sobre questões que estão contribuindo para a transformação do agro no Brasil e no mundo todo. Esse processo já está acontecendo e a tendência é que se intensifique nesta nova década. Afinal, as mudanças não se limitam da porteira para dentro, há uma onda global de mudanças que permeiam toda a cadeia, da fazenda à mesa. Vale destacar alguns dos temas principais, vetores de transformação, que já estão dando sinais de tendências para o futuro próximo que fizeram parte desta reflexão.

Sustentabilidade e as transformações na forma de consumo

Todos nós sabemos que a população mundial está crescendo e, consequentemente, a demanda por alimentos aumentará junto. As estimativas da Food and Agriculture Organization (FAO) indicam que até 2050 a produção agrícola precisará crescer globalmente 70%. Outro fator em evidência são as discussões sobre utilização dos recursos naturais e das boas práticas sustentáveis e seus impactos no planeta. Estas discussões permeiam diversos fóruns de cientistas, governamentais, da cadeia de produção de alimentos e da sociedade. Com isso, uma das certezas que temos é de que este tema é sério, e veio para ficar. E é fundamental que os produtores e as empresas estejam atentos a estes movimentos para estabelecer sua estratégia e seu planejamento, além de avaliar seus processos e a forma como utilizam os recursos naturais para continuarem produzindo por gerações.

Aliado a este tema, não é difícil notar que os hábitos de consumo da população estão mudando em diversos aspectos: maior preocupação com questões ambientais e de saúde; maior exigência com o que consomem, com a forma como o alimento é produzido e cada vez mais requerem o acesso a estas informações. Diante desta tendência, tanto as indústrias quanto os produtores rurais do mundo todo estão e serão impactados e pressionados pela forma como produzem e se comunicam com a sociedade - bem como o consumidor final. Daí a necessidade de estar cada vez mais atento aos movimentos de todos os elos da cadeia para ser mais assertivo e tomar as decisões certas tanto para mitigar possíveis riscos quanto para capturar oportunidades de diversificação ou até mesmo verticalização.

E dentro das porteiras, o que tem acontecido?

Agricultura 4.0 e digitalização

A nova década traz consigo o agro 4.0 cada vez mais forte. A Embrapa já levantou dados que mostram que a tecnologia representa 59% do crescimento do valor bruto da produção. Inteligência artificial, drones, big data e IoT (Internet das Coisas, em português) são algumas das tendências em tecnologia que fornecem dados constantemente e com maior precisão para ajudar o produtor na tomada de decisão. No fim das contas, o principal benefício de fazendas conectadas deveria ser a otimização de tempo, a melhora da gestão da produtividade e dos custos e adoção de práticas cada vez mais sustentáveis. No entanto, os desafios ainda são grandes, que vão deste o acesso à conectividade dentro das fazendas ao excesso de soluções que batem na porta das fazendas todos os dias: como escolher a tecnologia adequada em um universo de uma super-oferta de soluções e como gerenciar os dados gerados para que eles realmente agreguem no processo de gestão?

Sucessão e a nova geração

A sucessão nas fazendas é outro grande desafio enfrentado pelos produtores em todo o mundo. Você sabia que, no Brasil, a média de idade do produtor é de 46,5 anos? Estamos abaixo da média de outros países, mas há um dado preocupante de pesquisas do Valor Econômico que mostra que apenas 30% dos negócios de família obtêm sucesso após a segunda geração, caindo para 13% quando chega na terceira. Isso demonstra que organizar a gestão e a governança familiar é fator chave de continuidade dos negócios. Além disso, a entrada da nova geração, que em geral proporciona e alavanca as transformação nos negócios, não é diferente no Agro.

Assim, é importante organizar a presença da próxima geração e responder à pergunta: como atraí-los para o negócio? Pode parecer simples, mas a comunicação é fator fundamental para que a sucessão dê certo. Conhecendo negócios familiares, pude notar que muitos são impactados não por problemas financeiros, mas pela falta de comunicação clara entre os familiares sobre quais são as expectativas e ambições. De certa forma, uma boa comunicação é a chave do sucesso para muitos dilemas da vida, não é mesmo? Nada como estabelecer as regras do jogo para ajudar a resolver as questões que envolvem o negócio e os membros da família.

Ter essa nova geração envolvida é parte da transformação do agro e eles desempenharão um papel marcante devido ao perfil técnico, multifuncional e por estarem muito atentos a tudo o que acontece. Habilidades importantíssimas para essa nova era!

Em outubro do ano passado, recebemos aqui no Brasil um importante programa do Rabobank chamado Global Farmers Master Class, que tem como principal objetivo organizar grupos de estudo de produtores do mundo todo para discutir o futuro do agro. Nesta edição, tive a honra de participar de perto e pude perceber que todos estes temas e transformações estão acontecendo no mundo todo, não é privilégio nosso!

E vocês, o que esperam que esta segunda década do século XXI trará de mudanças para o Agro? Estão preparados para estas transformações? Bom, imagino que assim como eu, haja mais perguntas do que respostas, mas algumas certezas: que as transformações são inevitáveis, que estes temas vieram para ficar e que os negócios que melhor lidarem com eles se destacarão. Em um ambiente volátil e em transformação como o que estamos vivendo, estabelecer as parcerias certas é fundamental. Creio que o Agro brasileiro tem a chance de ser protagonista nesta história.

Você também acredita que podemos protagonizar essa nova era? Eu acredito e quero fazer parte desta história!

Por Pollyana Saraiva
Head de Rural Banking