Green deals: o mercado financeiro agindo em prol da sustentabilidade
“Não podemos nos dar ao luxo de não fazer nada”.
Essa foi a frase de Berry Marttin, Membro do Executive Board do Rabobank, ao desafiar a comunidade da IFAMA (International Food and Agribusiness Management Association) a apresentar ideias para mudar a postura de todos os envolvidos na cadeia alimentar com relação ao meio ambiente.
Isso se deve às crescentes consequências da mudança climática e ao esgotamento de recursos naturais, que afetam e impactam a nossa existência - escolher a passividade diante deste cenário não é mais uma opção. O mesmo se aplica à indústria financeira, que pelo seu poder de influência, abraçou essa necessidade. E os investidores já consideram a sustentabilidade como um dos critérios para escolher seus investimentos.
Essa não é uma conversa apenas da área de sustentabilidade para conscientização e melhoria da produção, mas também uma pauta comercial cada vez mais frequente. Por isso, como banco focado no agro, é importante ter uma visão integrada de negócio para oferecer soluções eficientes para o segmento nesse novo contexto de mercado. O desafio para o setor financeiro é: como ter conversas produtivas com os clientes com oportunidades de parcerias para essa nova demanda do mercado?
Sustentabilidade e gestão financeira andando lado a lado
Seguindo nesta direção, empresas e instituições passam a se ver não apenas como entidades produtoras de capital, mas também como membros operantes da sociedade com um dever a cumprir. É então que nasce o conceito de ESG (Environmental, Social and Governance) - traduzido para ASG (Ambiental, Social e Governança) -, que está intrinsecamente enraizado em pilares como preocupação e ação ambiental, movimentações sociais, transparência e boas práticas administrativas.
O conceito já é aplicado na prática no mercado de capitais e tem guiado novas ideias e possibilidades. A mais nova delas são os green deals, nos quais organizações entram em acordo sobre uma transação financeira e atrelam os pagamentos de juros ao cumprimento de metas incrementais de sustentabilidade.
Ainda que os resultados sejam de longo prazo, este comprometimento não pode ficar só no papel. Os indicadores das operações devem demonstrar mudanças efetivas na redução do impacto ou melhoria dos processos sustentáveis. Isso leva as organizações a avaliarem seus resultados além dos índices financeiros, como foi feito por muito tempo. É preciso considerar o “triple bottom line", ou tripé da sustentabilidade, em que os impactos ambientais e sociais recebam a mesma objetividade e transparência. Estes três aspectos devem ser balanceados dentro da estratégia das empresas.
No agro, observamos um movimento crescente das empresas para acessar esse tipo de investimento - o que demonstra uma profissionalização notável do setor. Tipicamente o agro é composto por muitas empresas familiares e, que até então, não tinham uma estrutura de governança robusta e preparada para acessar o mercado de capitais. No entanto, com o desenvolvimento do agro no Brasil, hoje vemos um significativo desenvolvimento neste sentido, com busca de níveis sofisticados de governança em direção aos critérios ESG.
Para o investidor, é necessário considerar os níveis de risco do agronegócio, como o clima e preço de commodities, por exemplo, ao escolher este tipo de investimento. Nesse contexto, essa tendência cria uma demanda para que instituições financeiras disponibilizem produtos responsáveis. A emissão de bons títulos é uma missão importante que cabe a todos. Para o agronegócio a diversificação entre o mercado de capitais e o crédito bancário equilibra os riscos e amplia o acesso ao capital no longo prazo. Para isso, no Rabobank, trabalhamos em parceria com os clientes em busca das melhores soluções, e para a melhoria dos ratings de sustentabilidade usando o conhecimento dos nossos especialistas globais, para que o agro se beneficie desta tendência de mercado, e contribua para cultivarmos um mundo melhor juntos, com mais sustentabilidade.
Pioneirismo e transformação do setor
Os ratings para os clientes foram implementados há cerca de 15 anos. Nesse momento, o Rabobank era o único banco com esse olhar. E a premissa é simples: antes de avaliarmos crédito, avaliamos o compliance de sustentabilidade. Caso o empreendimento não atenda aos requisitos, o crédito não é liberado. Isso nos tornou referência no setor e também contribuiu para a formalização da gestão dos negócios e melhoria de processos.
Algumas avaliações são feitas por técnicos especializados do banco. Para cada cliente é desenvolvido um projeto de acordo com as suas necessidades e quando as metas são atingidas, buscamos novos indicadores para manter a melhoria contínua. Para o produtor, melhorar sua nota significa mais oportunidades de crédito, o que traz benefícios financeiros e ambientais. Por isso, também auxiliamos promovendo o conhecimento, como o Manual de Boas Práticas do Agronegócio, em que é possível consultar diversas práticas sustentáveis a serem aplicadas na propriedade. Assim, as ações de negócios estarão sempre pautadas pela sustentabilidade.
O movimento dos green deals indica que, ao investir cada vez mais em iniciativas e transações guiadas pelos ideais de ESG, o mercado financeiro assume seu papel catalisador de mudanças positivas nas esferas ambientais, sociais e administrativas e convida outras parcelas da sociedade a agirem. Está cada vez mais claro o impacto desse movimento na bancabilidade e na reputação. A sustentabilidade é uma premissa básica para os negócios e precisamos adotar esse conceito de forma estratégica para continuarmos alimentando o mundo de forma sustentável.
Por Fabiana Alves
Head de Corporate Clients
Para complementar a leitura, deixo para vocês algumas indicações de conteúdos sobre o tema: