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Fortalecendo a confiança dos stakeholders com comunicação eficaz de práticas sustentáveis

A transparência não é um diferencial, mas sim uma premissa no mundo corporativo. Ter essa visão é crucial para garantir o bom relacionamento e fortalecer a confiabilidade da companhia com os seus stakeholders, independente do ramo de atuação. Para as empresas do agronegócio isso não é diferente. Em um cenário globalizado, em que as práticas sustentáveis passam a guiar o modelo de gestão, adotar ações focadas na transparência é fundamental. A propósito, esse é um dos pilares centrais de uma boa governança. À medida em que as demandas da sociedade avançam na agenda da sustentabilidade, podemos observar uma mudança significativa na expectativa dos stakeholders em relação à responsabilidade ambiental e social, o que exige dos negócios transparência cada vez maior sobre as operações e seus impactos. Este artigo mostra como a divulgação transparente de informações sobre as empresas do agronegócio molda percepções, melhora o relacionamento com nossos públicos de interesse e lança alicerces sólidos para o futuro do setor.

O que é a transparência na gestão empresarial?

A construção de uma relação transparente com todos os stakeholders, como clientes, acionistas, investidores, colaboradores e comunidade, é crucial para o futuro do negócio.

Por isso, essa preocupação é mandatória no mundo empresarial. Não deve ser meramente um enunciado no quadro de missão, visão e valores da organização. Tem que ganhar o dia a dia da empresa, permeando a cultura organizacional e as práticas de departamentos e áreas.

Independentemente do setor de atuação, quando uma organização incorpora práticas de transparência, constrói um dos grandes ativos empresariais: a reputação. Segundo os escritores Rupert Younger e David Beatty, coautores de "The Reputation Game: The Art of Changing How People See You" (2017), a reputação é um ativo valioso e muitas vezes intangível que pode influenciar significativamente o sucesso ou o fracasso de uma empresa.

Vai além da simples imagem e impacta a forma como as partes interessadas percebem e interagem com uma organização. Por isso, de acordo com eles, as companhias precisam gerenciar a reputação como em um jogo estratégico, sendo proativas na construção e proteção de sua reputação, em vez de reagir apenas a eventos adversos.

Vamos a alguns exemplos!

O setor sucroenergético é um dos destaques das exportações do agronegócio brasileiro. A safra 2023/24 apresentou crescimento significativo nos embarques de açúcar para o exterior em comparação com o ciclo anterior. Segundo análise do Departamento de Pesquisas Setoriais (FAR) do Rabobank, a partir de dados do Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, as exportações da commodity em 2023 atingiram volume recorde: 31,28 milhões de toneladas embarcadas, o que corresponde a 15,1% a mais do que no ano anterior. Esse resultado supera em 2,4% o montante registrado em 2020 (30,63 milhões de toneladas), que era o maior volume de açúcar exportado pelo país até então.

Hoje esse desempenho somente é possível porque toda cadeia investiu em práticas modernas, sustentáveis e transparentes, mostrando para a sociedade brasileira como um todo e para mercados internacionais altamente exigentes que as empresas do setor evoluíram muito ao longo das últimas décadas, especialmente nos aspectos socioambientais e de governança.

As organizações sucroenergéticas, por exemplo, têm aderido à certificação Bonsucro. Um sistema de certificação internacional para a produção sustentável de cana-de-açúcar e seus derivados, como açúcar e etanol. É uma organização sem fins lucrativos que visa promover práticas agrícolas capazes de assegurar que os produtos derivados da cana-de-açúcar atendam a padrões específicos relacionados à produção social e ambientalmente responsável.

A transparência é um dos pilares da certificação Bonsucro, sendo parte essencial da abordagem da organização para promover práticas sustentáveis em toda a cadeia. Nessa linha, busca fornecer informações claras e acessíveis a todos os stakeholders, incluindo produtores, processadores, traders, consumidores e a sociedade em geral.

Investidores e critérios ESG

Não apenas o setor sucroenergético, mas as grandes cadeias do agronegócio brasileiro, como soja, milho, algodão, café e pecuária, entre outras, evoluíram em todas as áreas da sustentabilidade.

Em um mundo cada vez mais orientado pelos critérios ESG (do inglês, Environmental, Social and Governance), as organizações do agro priorizam um relacionamento mais transparente com os diferentes players do mercado, o que demonstra responsabilidade financeira e ética nos negócios. Isso pode aumentar a confiança de investidores e atrair/reter talentos qualificados.

Compartilhar abertamente nossos resultados, sucessos, desafios e aspirações não apenas reforça nosso compromisso com a responsabilidade corporativa, como também cria um terreno fértil para parcerias sólidas.

Vale destacar que, por mais que as empresas do setor estejam cada vez mais comprometidas com práticas socioambientais bem estruturadas, eventuais investidores não estarão seguros em aportar recursos em organizações que não priorizem uma governança de excelência e que não seja sustentada sobre pilares como transparência, ética e integridade.

Transparência: prioridade crescente no mundo corporativo

Para ser uma empresa transparente, não basta querer. É preciso agir. É o que fizeram grandes companhias que atuam no mercado brasileiro. Exemplo dessa preocupação no agronegócio brasileiro é a Marfrig Global Foods. A organização, que atua no segmento de processamento de carnes, tem demonstrado compromisso com a transparência em suas operações. Publica relatórios anuais e informações sobre sustentabilidade, destacando iniciativas relacionadas ao meio ambiente, governança e responsabilidade social.

A maior fabricante de celulose do mundo, a Suzano, também é modelo na divulgação de suas operações no Brasil e no exterior. A companhia publica, periodicamente, um dos relatórios de sustentabilidade mais completos do país, apresentando seu desempenho em diferentes áreas, além de compromissos e metas específicas e mensuráveis. Uma ferramenta importante de comunicação e gestão, que aumenta a confiança e a credibilidade da empresa junto aos stakeholders.

Referência global em bioenergia e com amplo portfólio de produtos renováveis, a Raízen também enxerga a transparência como um pilar fundamental para a sua governança. A companhia publica um relatório integrado com os resultados operacionais, socioambientais e financeiros de cada safra. Além disso, em sintonia com as melhores práticas do mercado, divulga periodicamente relatório que segue os padrões da GRI (Global Reporting Initiative), o qual permite mensurar, padronizar e divulgar os resultados de seus negócios, impactos sociais e ambientais, além de apresentar informações de governança.

Melhores práticas

Sua empresa já incorporou iniciativas transparentes focadas nos stakeholders? Diferentes instrumentos de comunicação e práticas de transparência têm sido adotados pelas companhias do agronegócio, como os Relatórios de Sustentabilidade.


Eles consistem no reporte de indicadores de desempenho econômico, social e ambiental, bem como na apresentação das estratégias e formas de gestão sobre os temas mais relevantes para o negócio. O objetivo é promover o diálogo transparente com todos os stakeholders.


Para apresentar o desempenho da organização em diferentes aspectos da sustentabilidade, o relatório utiliza indicadores e métricas específicas e que seguem padrões reconhecidos internacionalmente. Inclusive essa é outra boa iniciativa quando se fala em transparência no agronegócio: a adoção de Indicadores e Métricas de Desempenho claros e bem estruturados.

A elaboração de relatórios não apenas facilita a avaliação do desempenho e a mensuração de resultados de diferentes práticas sustentáveis, como possibilita uma visão integrada do negócio, consistindo num importante instrumento de gestão. Esses indicadores e métricas não apenas dão visibilidade à jornada da sustentabilidade, como também medem impactos sociais e ambientais, facilitam a análise de aspectos econômicos e identificam pontos de melhoria.


Além disso, as organizações do agro também podem utilizar plataformas online para dialogar e estreitar vínculos com os stakeholders. Essa estratégia não apenas tem o potencial de ampliar a abrangência da comunicação, como facilita a interação e democratiza o acesso. Algumas ferramentas digitais de transparência que são utilizadas são:

● Plataforma Online Dedicada: usada para divulgar informações sobre práticas sustentáveis, tanto para o público interno como externo;

● Comunicação nas Redes Sociais: presença regular e ativa da companhia nas redes sociais, compartilhando informações sobre práticas sustentáveis, participação em eventos e engajamento com a comunidade;

● Webinars e Eventos Virtuais: iniciativas visam a discussão de temas relacionados à sustentabilidade no agronegócio, permitindo que a empresa ganhe autoridade, ou seja, torne-se referência neste assunto no segmento de atuação;

● Inovação Tecnológica e Transparência na Cadeia de Suprimentos: diferentes tecnologias, como GPS, sensores, telemetria e inteligência artificial, podem ser grandes aliadas do produtor rural para assegurar a rastreabilidade de seus produtos.

Conclusão: rumo a um futuro mais sustentável

Se a sociedade pede hoje práticas cada vez mais sustentáveis de suas empresas, é importante ficar claro que sem transparência não há sustentabilidade. Afinal, este é um pré-requisito imprescindível para uma organização obter o que mais precisa de stakeholders: a confiança.

A transparência é também uma ferramenta eficaz para atrair e envolver outros atores na adoção de práticas responsáveis. Não é suficiente uma companhia adotar todos os procedimentos de sustentabilidade possíveis se os seus stakeholders não estão em sintonia com este propósito. Por isso, um dos grandes desafios de uma gestão sustentável é criar canais que possam fomentar, envolver e obter o feedback de todos os seus públicos de interesse. Por exemplo, não adianta os acionistas decidirem pela implantação de práticas sustentáveis se os seus funcionários não estiverem envolvidos neste processo. Ou ainda se os fornecedores de matéria-prima não respeitarem os direitos de seus trabalhadores e descartarem inadequadamente seus resíduos.

Quando falamos da importância da transparência e da adoção de práticas sustentáveis, estamos falando da construção de uma cultura da empresa, que deve estar enrraizada em todos os níveis da organização. O compromisso de ser transparente e socioambientalmente responsável não pode ser apenas dos executivos mais altos da companhia. É fundamental que seja estimulado, comunicado e implementado na empresa como um todo. Um processo que tem de ser transversal, abrindo espaço para o envolvimento dos próprios colaboradores. Do contrário, fica um discurso para fora, mas com pouca mudança desencadeada dentro da própria empresa.

Na agropecuária, a cobrança por práticas transparentes, especialmente em áreas como meio ambiente e social, é cada vez maior, principalmente se considerarmos o papel estratégico que este setor possui para o futuro do planeta: tanto por prover alimentos para uma população que já ultrapassa 8 bilhões de habitantes, como por mitigar impactos ambientais e sociais.

Essa jornada é contínua e árdua. Ainda precisamos melhorar muito nossas práticas de transparência e irradiar esse modelo de gestão para um número ainda maior de empresas na cadeia produtiva do campo à mesa. Estamos todos conectados na busca por um futuro mais sustentável.

Por Mario Ferreira

Head de Wholesale